Não haverá guerra do gás no Ano Novo

 

O novo turno de conversações russo-ucranianas a respeito do preço de gás – o último neste ano – não foi bem sucedido: cada uma das partes ficou na sua posição. Anteriormente, uma situação destas poderia pôr em perigo os fornecimentos do gás russo à Europa. Mas neste ano já se sabe ao certo – ninguém vai barrar o tubo de gás na noite do dia 1 de janeiro. As conversações serão continuadas no próximo mês.

Durante todo o ano de 2011 a atual direção ucraniana insistiu em conseguir a revisão dos contratos com a Rússia, de acordo com os quais o gás russo já custa à Ucrânia 464 dólares por mil metros cúbicos. As autoridades ucranianas declaram que mesmo a Alemanha paga pelo gás russo um preço muito mais baixo. O perito do Fundo de Segurança Energética Nacional Aleksandr Pacechnik declarou à Voz da Rússia que neste caso não existe nenhuma discriminação:

A empresa Gazprom não eleva os preços mas trabalha em rigorosa conformidade com o contrato, válido até 2019. Este contrato é perfeitamente legítimo e foi reconhecido pela União Européia. No plano jurídico, não existe nenhuma reclamação em relação à Gazprom. As alterações conjunturais do mercado refletem a realidade dos preços que a Ucrânia paga. O preço do gás está subindo e estas variações constam nos contratos. Não se trata de nenhuma tentativa deasfixiar artificialmente Kiev.

A Rússia propôs várias vezes a Kiev importantes descontos no preço do gás em troca do controle sobre o sistema ucraniano de transporte do gás e do ingresso na Aliança Alfandegária. Mas Kiev insiste em que o seu sistema de transporte de gás pode ser gerido apenas em conjunto com a União Européia. Quanto à Aliança Alfandegária, afirma que isso não lhe convém.  Em fins de dezembro, o presidente Viktor Ianukovitch declarou que a Ucrânia seria capaz de pagar apenas 250 dólares por mil metros cúbicos. A Gazprom respondeu que Kiev não deve esperar presentes do Ano Novo. O politólogo Bogdan Bezpalko comenta a situação:

Os descontos do preço de gás previstos pelos acordos de Kharkov, já foram feitos, o seu total atinge três bilhões de dólares. Mas a Ucrânia exige agora mais descontos, no valor de seis bilhões. Ninguém vai dar este dinheiro de presente à Ucrânia. Pode-se obter descontos, mas para isso será preciso ir ao encontro  e criar um consórcio em que a Rússia tenha possibilidade de gerir o sistema ucraniano de transporte de gás. Por enquanto, Kiev dá a entender que não admite esta variante.

A Suprema Rada da Ucrânia, isto é, o parlamento ucraniano, já aprovou o Orçamento de Estado, no qual é indicado o preço de 416 dólares pelo gás russo importado. O chefe do governo, Nikolai Azarov, declarou que o país poderá arcar com este preço. Mas este apego aos princípios pode acabar por custar caro ao país, afirma Aleksandr Pacechnik:

O preço de gás previsto no orçamento ucraniano é muito alto. Além disso, espera-se que, já no primeiro trimestre, o preço atinja os 450 dólares por mil metros cúbicos pois o respectivo contrato prevê a ligação ao preço do petróleo. Este preço será insuportável para o orçamento ucraniano e pode levar ao default. Por isso, a Ucrânia deve firmar com urgência um contrato com a Rússia sobre a cooperação de grande envergadura na esfera de gás.

Mas a direção da Ucrânia prefere asseverar que as conversações sobre o gás seguem o seu curso normal e que a questão pode ser resolvida de alguma outra maneira. O novo turno de conversações foi marcado para meados de janeiro. Os peritos são de opinião que o mais provável é que o turno de janeiro venha a ser decisivo. Todavia, a direção da Gazprom admite que possa ser assinado um acordo complementar aos contratos atualmente em vigor.